Governo Federal precisa sinalizar pela reestatização das empresas de saneamento

Governo Federal precisa sinalizar pela reestatização das empresas de saneamento

Água, direito fundamental!

Em recente artigo, Clóvis Nascimento, coordenador administrativo do ONDAS e secretário-geral da Fisenge (Sindicato dos Engenheiros) afirma que é preciso uma agenda ampla em defesa do saneamento público no Brasil com alguns elementos importantes, entre eles: a aprovação da PEC 6/2021, que inclui na Constituição a garantia do acesso à água enquanto direito fundamental, fortalecendo todas as políticas públicas na área de saneamento e a necessidade de barrar as privatizações em curso, como a Sabesp.

No Brasil, milhões de pessoas sofrem com a falta de acesso à água potável. Os últimos anos no país foram de retrocessos políticos, econômicos, sociais e culturais. E o saneamento não ficou de fora deste cenário. Foram inúmeras as privatizações país afora, como a CEDAE, no Rio de Janeiro; a recente tentativa de privatização da SABESP, em São Paulo.

No Rio de Janeiro, os governadores Wilson Witzel e Claudio Castro organizaram – sob o apoio do governo Bolsonaro – uma operação de entrega do patrimônio público, destruição da memória técnica da engenharia, autoritarismo com a sociedade civil e os movimentos sociais e fatiamento da Cedae. Esse processo teve início com a ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 1.842/13 – apresentada no STF (Supremo Tribunal Federal) – e criou o instrumento das ‘Prestações Regionalizadas’, pelo qual os municípios são enquadrados como ‘interesse comum’ (fundamentalmente, regiões metropolitanas) com adesão compulsória, e aqueles de ‘interesse local’ aderem de maneira facultativa.

A alienação de ações da Cedae foi oferecida como garantia para um empréstimo de R$ 2,9 bilhões obtido junto ao Banco BNP Paribas Brasil S.A., com a previsão de que o recurso deveria ser utilizado prioritariamente no pagamento da folha dos servidores. Em seguida, o Rio de Janeiro aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal, em 2017.

Em 2018, a receita operacional da Cedae foi de R$ 5,6 bilhões e o lucro líquido de R$ 832 milhões, conforme dados extraídos do balanço da Cedae referente aquele ano e publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 2019. No ano de 2019, seu lucro líquido foi da ordem de R$ 1 bilhão. Mesmo com esses números, o Governo do Rio de Janeiro realizou a licitação para a concessão dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário em vários municípios divididos em quatro blocos/lotes.

Como vimos em vários casos internacionalmente e nacionalmente, a privatização segue não dando certo. Água falta em diferentes territórios, principalmente nas favelas, na Baixada e em regiões mais pobres. Há falta de saneamento e tratamento de resíduos sólidos.

Nesse sentido, é preciso uma agenda ampla em defesa do saneamento público no Brasil com alguns elementos importantes, sendo eles: a aprovação da PEC 6/2021, que inclui na Constituição a garantia do acesso à água enquanto direito fundamental, fortalecendo todas as políticas públicas na área de saneamento; a necessidade de barrar as privatizações em curso, como a Sabesp; o cumprimento do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) 2014-2033 rumo à universalização do saneamento; e a implementação e ampliação de programas de tarifa social. Levaremos estas e outras pautas para a Conferência Nacional das Cidades, mas o governo federal também precisa sinalizar pela reestatização das empresas de saneamento.

Água é vida. Não é mercadoria. E a vida das pessoas não têm preço, ainda mais em um momento de emergência climática.

*Artigo publicado originalmente no site GGN.

Fonte: FNU